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Resumos

António Ventura

Censura e autocensura no liberalismo português

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

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Nesta comunicação abordamos o problema da edição de textos de autores liberais durante os exílios (1823-1827, 1828-1834), em especial a ocorrência de autocensura, destacando o caso de Garrett.

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José Camões

Emendas e censuras: entre a página e o palco 

O projecto Teatro proibido e censurado em Portugal no séc. XIX

Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

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O século XIX não dispensou o controlo da actividade teatral, criando para isso, na reforma de Garrett, em 1836, a Inspecção Geral dos Teatros e Espectáculos Nacionais e, mais tarde, a Comissão de Censura Dramática, que conviviam harmoniosamente com o espírito liberal que presidia à época. 

O projecto Teatro proibido e censurado em Portugal no século XIX proporcionou a transcrição e edição dos pareceres emitidos, bem como a identificação dos censores, dos textos dramáticos censurados, dos respectivos autores e tradutores, tendo em mente que a produção dramatúrgica do século XIX português se pauta tanto pela abundância de originais como pelo superior número de acomodações à língua portuguesa de textos estrangeiros, nas formas de tradução, adaptação, imitação, etc. As questões estéticas, quer relacionadas com as correntes dramáticas ou a qualidade dramatúrgica, quer com o uso da língua, parecem ser as mais invocadas nos pareceres emitidos pelos censores.

O projecto assume-se, pois,  como contributo importante não só para a história do teatro, da literatura e da língua, mas também para a história das mentalidades.

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Ana Isabel Vasconcelos

As práticas censórias segundo Almeida Garrett

Centro de Estudos de Teatro / Universidade Aberta

 

Na história do teatro português oitocentista, 1836 é o ano que tomamos como “o princípio de todas as coisas”, devendo-se esta assunção às medidas preconizadas por Almeida Garrett e publicadas então em letra de lei. A defesa de um teatro que formasse e educasse o povo foi um desiderato expresso desde a primeira hora e que honrava o pensamento liberal. 

Adversos a um regime absolutista, os que haviam lutado por novas políticas estavam empenhados em elevar o nível cultural da população e em defender os valores que enformariam um novo modelo social, designadamente através de uma arte que se acreditava ser um eficaz meio de civilização. Cabia à intelectualidade portuguesa, agora no poder, materializar estas aspirações e é neste espírito que, a par de medidas de renovação, reorganização, restruturação e desenvolvimento do teatro em Portugal, os liberais instituem a prática de uma censura que, acreditavam, contribuiria para acautelar a missão então consensualmente atribuída ao Teatro: educar e moralizar. É dos efeitos práticos dessas medidas, geradoras de algumas polémicas, que nos iremos ocupar.

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Luísa Cymbron

Em busca do rasto da censura no Teatro de S. Carlos do séc. XIX 

Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical

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Em Janeiro de 1834, menos de seis meses após a entrada do exército liberal em Lisboa, o Teatro de S. Carlos reabriu as suas portas depois do período miguelista e da guerra civil que o tinham levado a um encerramento prolongado. Os anos seguintes veriam a afirmação do repertório italiano romântico, com a chegada de compositores como Donizetti, Bellini e Verdi. Na Itália, este repertório era alvo frequente da censura, primeiro no que respeitava a referências a questões religiosas ou morais, depois, e na sequência das vagas revolucionárias de 1848, a revoltas ou alusões políticas que pudessem, de alguma forma, ser lidas como metáforas da situação em que viviam muitos estados da Península Itálica. 

Na capital portuguesa, depois da implantação da monarquia constitucional, o ambiente político era significativamente mais aberto. Aliás o S. Carlos contou nesses anos com a colaboração de um conjunto de profissionais de teatro, quase todos carbonari, que se tinham refugiado em Lisboa. Em parte por isso, uma leitura dos libretos das óperas estreadas a partir de 1834 mostra uma significativa fidelidade aos textos originais, não retendo as secções que eram geralmente cortadas nos teatros italianos. Veja-se, por exemplo, o caso de Don Giovanni de Mozart, estreado no S. Carlos em 1839. Tal não significa que a censura não tenha tentado, em momentos particulares, exercer o seu poder. São esses traços que procuraremos encontrar nesta comunicação mesmo sabendo que o espectáculo que se realizava no palco do Teatro de S. Carlos, por ser destinado às elites e cantado numa língua estrangeira, tornava as preocupações deste organismo menos rigorosas. 

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Isabel Novais Gonçalves

Política, riso e censura: o caso da ópera cómica portuguesa As penas de um pavão (1868)

Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical

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Em 1868, apesar da crise económica e política, assistiu-se em Lisboa a um momento particularmente auspicioso no panorama teatral. 1868 foi o ano Offenbach em Lisboa. O sucesso fenomenal de A Grã-duquesa de Gérolstein no Teatro do Príncipe Real (29.02), de O Barba-Azul no Trindade (13.06) e de As Georgianas no Ginásio (29.10) superou as melhores expetativas dos empresários teatrais. Mas o impacto foi sobretudo significativo na forma como mexeu com o público e os críticos, ao introduzir o gosto por um género de comédia musical que aliava a vivacidade e frescura da música de Offenbach ao humor satírico dos libretos da dupla Meilhac e Halévy. 

Já muito se escreveu sobre a produção e a receção destas operetas no meio lisboeta. Mas interessa também apurar se de alguma forma as práticas teatrais autóctones sofreram alguma mudança e sobretudo, se a repercussão da sátira e crítica social de Offenbach chegou a contaminar a própria comédia musical original portuguesa. A ópera cómica de Augusto Garraio e Eduardo Martins As penas de um Pavão, estreada no dia 22 de Agosto e silenciada no dia 23, parece constituir um programa de aproximação à irreverência de Offenbach. Esta é uma hipótese que esta comunicação levanta e discute, convocando para análise as diferentes estratégias do riso que o Pavão despoletou, a reação da censura que irremediavelmente provocou e o contributo, enquanto exemplo, que poderá dar para um conhecimento mais abrangente da ópera cómica portuguesa.

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Bruno Henriques

As «Mágicas», condescendência do gosto 

Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

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Apesar dos esforços de Almeida Garrett em prol da criação de um repertório dramático nacional que evidenciasse preocupações temáticas e estéticas que conduzissem à educação e moralização pelo teatro, o público oitocentista continuou a aplaudir as peças estrangeiras e os géneros menos elevados: vaudevilles, farsas e mágicas.

Estas últimas assentavam mais na dimensão espectacular do que na estritamente literária. No entanto, os censores não se eximiam de criticar os textos destas produções, acusando-os de não observarem a qualidade literária nem preceitos estéticos da arte teatral como a verosimilhança, por exemplo.

Esta comunicação pretende contribuir para o conhecimento das práticas cénicas deste género que, caracterizado pelos ambientes fantásticos e pelo grande aparato cénico que envolvia a sua produção, distraiu o público de todas as idades e de todas as classes sociais que enchia as salas dos teatros, atraído pelos cenários, maquinaria, tramóias, figurinos e demais ingredientes cénicos.

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Guilherme Filipe

O Bezerro de Ouro: publique-se o que os empresários censuraram

Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

 

Em 1890, Guilherme Augusto de Santa Rita deu à estampa O Bezerro de Oiro, drama original em cinco actos, antecedido por um prefácio “em que se descreve o procedimento que teve para com o auctor a empresa societária do Theatro Normal de D. Maria representada nos actores João Rosa, Eduardo Brazão e Augusto Rosa”. O injustiçado autor, recusando o apelo ao governo, expôs à “benevolência do leitor” o exame do “curioso processo” de censura teatral por parte dos empresários, confiando mais na opinião pública, para o julgamento das “arbitrariedades” de que sentia alvo, do que na letra de lei, que legitimaria as suas pretensões. Mais do que um desabafo, este prefácio intencional constitui-se, segundo o seu autor, num “documento para a história do teatro portuguez”, ilustrando o leitor sobre os factos e as considerações que lhe deram origem. Confrontemo-lo.

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Licínia Rodrigues Ferreira

A censura dramática em defesa da língua

Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

 

Um dos objetivos deste colóquio é divulgar novos materiais para o estudo da censura dramática em Portugal no século XIX, e propor os primeiros estudos sobre esses documentos. Neste sentido, abordaremos a missão defensora da língua portuguesa que a censura desempenha. Partimos da orientação emitida por Almeida Garrett em 1836 e da subsequente regulamentação até à abertura do Teatro Nacional D. Maria II, para sistematizar, primeiro, os critérios prescritos para a análise das peças propostas à representação nos teatros de Lisboa e do Porto. Depois, confrontamos esses dispositivos com os pareceres efetivamente produzidos por diferentes censores, para determinar de que modo os critérios foram aplicados, e, sobretudo, para compreender quais as principais preocupações dos censores relativamente à qualidade linguística e literária das peças. Tratando-se de um período de forte influência do teatro francês, será indispensável observar a reação dos censores, e também da crítica, perante a displicência com que os tradutores vertiam textos franceses para português. O afrancesamento da língua portuguesa, através do uso de galicismos, constituía um problema para a censura. De um modo geral, são apontados reparos quer à construção gramatical, quer ao estilo, quer a opções semânticas. Em que medida as incorreções obstavam a aprovação? E qual o alcance da obstinada defesa da língua portuguesa pela censura dramática oitocentista?

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Renato Aurélio Mainente 

As práticas censórias no âmbito do Conservatório Dramático Brasileiro (1844-1864)

Universidade Estadual Paulista - Instituto Federal de São Paulo

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A presente conferência tem por objetivo descrever as práticas censórias adotadas pelos membros do Conservatório Dramático Brasileiro no decorrer do século XIX. A instituição, criada em 1843, era composta por literatos e dramaturgos brasileiros, e possuía como principal função avaliar textos dramáticos e conceder permissão para a encenação das peças nos teatros do Rio de Janeiro. A partir desses objetivos, os membros do Conservatório emitiam pareceres sobre todos os textos dramáticos a eles submetidos, permitindo assim identificar os principais parâmetros adotados pela censura teatral no Rio de Janeiro oitocentista.

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